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sexta-feira, 27 de julho de 2012

O perfil de um bom cuidador de idoso!...

                      (pra não dizer que não falei de generosidade)

Olha aqui!...
Presta bem atenção!...
Gente, de repente, dei-me conta de que,
Ainda ontem, eu era um garotinho
Traquinas (que gostava de jogar pelada
em qualquer campinho de várzea;
que amava salta os muros da escola pra matar aula
e tantas cositas más...)
E que hoje, como quê num passe de mágica,
já estou um idoso, e, por isto, dependo, em quase tudo,
De um bom “cuidador de idoso”.
Eis ai, então, um dos baitas porquês pelo qual
Me atrevo a escrever umas palavrinhas sobre este assunto
Tão instigante para mim, neste meu agora existencial.

Entre tanto, é que bom que se esclareça,
De inicio, que é mais fácil se
 “achar uma agulha no palheiro”,
Do que se encontrar um profissional
Desses de excelência, de imediato.
Isto porque, nem só diplomas e mais diplomas,
Nem tampouco indicações e mais indicações
de amigos ou firmas são suficientes para
se ter a certeza de estarmos fazendo uma boa escolha
de quem devera cuidar de nós idosos.
Portanto, eis aqui algumas dicas, de quem tem,
Por experiência própria,
muito conhecimento do tal assunto.
Então vejamos:
O pretendente há que ser portador:
De um temperamento afável,
De abundante ternura,
De bastante alegria,
De uma paciência monástica,
De um evidente desejo de partilhar seu dia a dia
Com quem pretende cuidar,
De ter disposição de ser cúmplice do idoso,
E, também, de seus familiares!
(até certo ponto!)
Como também lhe é imprescindível
Ter tempo de sobra pra gastar, sem avareza,
Com o idoso... que dele muito precisa...

Ah! Pra quem muito deseja ir mesmo á lida nesse difícil ofício,
Muitos outros atributos lhe serão ainda necessários:  
- Gostar de conviver com idosos;
- Entreter-se ouvindo seus “causos”;
- Estar sempre atento ao horário de sua medicação,
  De suas consultas rotineiras,
  De aferir sua  pressão arterial com certa freqüência;
-Saber conduzi-los e caminhar no tempo deles, e não no seu próprio;
Enfim, facilitar-lhes, também, toda sorte de interação,
Social, política, econômica, religiosa, cultural...

Na minha simples visão de idoso, feliz e assumido,
Afirmo que para ser “cuidador de idoso”
É preciso arriscar-se a ser sábio, antes mesmo,
Que a velhice lhe tinja a fronte
Com muitos cabelos prateados!...

(Entre o idoso e seu “cuidador”, há de haver laços de muito respeito e cordial afeto!)


Montes Claros (MG), 01-06-2012
RELMendes         

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Lúcia...

( um sonho primaveril!...)

-Subitamente...
A sala toda se iluminou, 
E como que do nada
Ela apareceu radiante
E esfuziante
Como o alvorecer...

-Bastou-me apenas o soar
De um simples cumprimento dela
Pra que eu me envolvesse...por inteiro,
Num intenso clima de sedução...

-Então...não hesitei!
Encantado.....
Ofertei-lhe a passarela
Dos meus sonhos
Para que...nela,
A desfilar faceira...
Fizesse-me derramar pleno
De sublime fascinação...

-O espelhar de seus lindos olhos...
Verdes ou azuis,
( não sei bem definir),
As suas mechadas madeixas loiras...
E o seu magnífico porte
De saborosa potranca
(Ah, meu Deus!)
Já justificavam o seu esbanjar...supremo,
De tanto encantamento...

-Ela era...e quiçá ainda o seja,
Uma "nouveau riche" extravagante:
No falar, no agir,
E em seu modo... ora terno, ora agressivo,
De gostar ou de amar enfim...
Era verdadeiramente um diamante bruto,
- Lá de Andradina...interior paulista -
Que jamais se deixava lapidar por ninguém...

-E porquanto...Lúcia...ainda hoje,
Faz-se tão forte lembrança em mim...
Que chega até a iluminar a praça da apoteose
De minha desvairada imaginação...
E como nem a batuta do tempo
Conseguiu dissipar... sua tão bela presença,
Do baú de minhas recordações...
-Que insistem em preservá-la
No âmago do meu ser enfim -
Então, eu lhe fiz esses versos...
Para que...se os lê,
Saiba que eu nunca a esqueci...



Montes Claros(MG), 05-01-2012
RELMendes

Do trampo ao muquifo: uma vernissage do contraditório


Nas lojas dos grandes magazines...
Nas recepções das empresas e escritórios...
Monta-se uma ridícula vernissage,
Onde se põem à mostra elegantes operárias...
Portando uma pernóstica postura de “serveuses”   
Metidas a besta!... 

Exalam perfume de grife estrangeira,
Portam, com elegância, fino lenço no pescoço,
Vestem belos tailleurs alinhados,
Calçam scarpin de salto alto,
Têm cabelos sedosos e arrumados,
Mostram unhas e pés bem cuidados,
Falam baixo, com voz doce, macia e agradável,
Concordam sempre com tudo!...
Vez por outra... a disfarçar,
Dão alguma sugestão,
Se derramando em discreta gentileza...

É essa a aladainha recorrente...
Das inúmeras obrigações impostas  
No suntuoso e refinado ambiente de trabalho,
Para manter uma falsa aparência européia,
Que ainda hoje encanta, sobremaneira,
Os contratadores de cá,
 Dos quentes trópicos brasileiros!...


Cumprida a estafante jornada de trabalho,
Desvestem-se da grotesca fantasia,
E retornam cansadas...
Ao gostoso cafofo,
Onde se esconde a realidade
De suas vidas.

Ao chegar lá:
Asseiam-se com banho de caneca...
Perfumam-se com água de cheiro de jasmim...
Vestem folgadas saias de chita estampada
Ou, simplesmente permanecem descompostas,
(Como é de preferência...) 
Matam a fome com um ligeiro mexidão
(Acocoradas perto do velho fogão)...
Arrotam sem nenhuma precaução...
Bebem água aos fartos goles...
Conversam e gargalham...
Com quem se achega...
E por fim,
Se jogam em seus leitos surrados!
Ah quem dera que fossem cobertos...
Com alvos lençóis cheirando patchouli,  
(Trazidos lá do Belém do Pará!...)

Sem se apoquentarem
Com o matraquear dos barulhentos familiares,
Adormecem estafadas...
Como se nos braços de Morfeu repousassem...
E  pasmem!...
Parecem ter sonhos maviosos...
Como se embalados fossem... 
Ao som da própria harpa de Orfeu.

Antes que um novo alvorecer se achegue
E tenham novamente...
Que se revestir de “serveuses”,
(Pra alindar a vernissage da galeria em que trabalham,)
Ressonem... ressonem.... ó belas ninfas do Brasil!...


Montes Claros, 19-07-2012
RELMendes
                              

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Só alguns retalhos de saudade!...

                                                  (poecrônioca!)

Após o almoço,
Enquanto na rede
 Zefinha suspirava debulhando as contas do rosário,
(Que lhe escorriam por entre os miúdos dedos
a cada Ave Maria),
Ernesto, o carrancudo marido,
Cochilava (durante a prolongada sesta)
Embalado por sonhos e devaneios,
Quiçá, transportados da infância
Lá dos tempos vividos no Alentejo.

A prole de seis rebentos
Entretinha-se por ali mesmo,
Esfregando-se pelos cantos,
Ao derredor dos velhinhos!

Com exceção de Julieta,
(Que se casara com Sebastião,
o  decantado fiscal da receita),
E da corajosa e destemida Elisa,
A quem o intransigente patriarca
Não perdoou nem no seu leito de morte,
Só por ter ousado se enfiar
No convento das célebres doroteias,
Sem ter o seu devido consentimento!

Guiomar, a mais serelepe das três velhinhas,
Vez por outra, sustentada pelas pernas muito finas,
( Que nem cano de carabina de cangaceiro,
como diria Carlos, único varão entre as meninas),
Aventurava-se a ficar debruçada
No grosso parapeito da janela da sala
Só pra bisbilhotar a vida alheia,
Que lenta se derramava
Pelos incandescentes paralelepípedos
Que cobriam a rua onde felizes residiam!


Tula, a mais tímida das meninas,
(Diga-se de passagem muito parecidas
com aquelas “cajazeiras da novela”),
Sempre se continha lá no borralho
A preparar o rango da família,
Mas vez por outra de soslaio,
Observava tudo o que na sala ocorria!

A mais aperreada
Das três vitalinas
Era a Berta!
Uma espécie de sentinela desperta,
Um verdadeiro leme,
Pois tudo na casa
 Conduzia sozinha!

Lá pelos recantos da hoje famosa Aldeota
Fui recolhendo esses retalhos de saudade
Como se fossem velas coloridas de jangadas,
Que ainda hoje vejo a tremular nos verdes mares
De minhas muitas lembranças!...


Montes Claros(MG), 30-06-2012
RELMendes