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sábado, 30 de abril de 2016

Um olhar sob o ocaso da vida



- Ora!... Ora!... Ora!...
Cá entre nós, e tão-somente entre nós:
Pois num é que o tempo passou e passou célere
E eu nem sequer me apercebia disso...
Quiçá, porque eu o gastava...sem avareza,
Em semear...por onde caminhei e caminhei...
Sonhos e mais sonhos a cada amanhecer.
E, pois num é que...por onde eu os semeei,
Desabrocharam sorrisos e mais sorrisos esperançosos!

- Será por que, hein?
Ah! Quiçá, porque orvalhei os caminhos percorridos
Com o verbo esperançar, né não?!
Verbo esse que pouquíssimos, mas pouquíssimos mesmo,
Ousam decliná-lo...com satisfação,
Vez que requer: Labuta, determinação, disposição Persistência...transparência...“parrésia”enfim.
Ah! E, sobretudo, um punhado substancial
De “COMPAIXÃO”...
(Sentir com as vísceras o sofrimento do outro)
Sentimento nobilíssimo,
Porquanto fruto da generosidade interior
Que, tão-somente, as almas gentis o possuem...
E o possuem pra enfeitar...e enfeitar com galhardia,
O lindo jardim da vida...verdinha verdinha...ara!
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!

-Entretanto, como quem está vivo...
Eu também teria de vivenciar
A iminente velhice...que sorrateiramente,
Foi se achegando a mim...sem economias,
Porquanto tive, e continuo a ter, o privilegio de viver
Embriagado de vida verdinha verdinha
Isto já por mais de sete (7) décadas e meia...ora bolas!
Portanto, nada contra a velhice ou o longo viver...
Vez que viver é bom demais da conta, sô!
Mas a mim só me parece que, vez por outra,
Ela, a velhice, anda muito mal acompanhada:
-Hipertensão...
-Reumatismo...
-Diabetes Mellitus II etc etc
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!

Mas, em compensação, a temida velhice
Oferta-me horas a fio pra eu degustar
Coisinhas simples que tanto me aprazem:
- Amanhecer-me antes do despertar do sol
Para extasiar-me com o alvorecer incandesceste
Desse amado sertão e deliciar-me com a cantoria
Da passarada louvando o novo dia que se deixa acordar...
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!
- Ir a pés em chão bem cedinho á padaria
Pra jogar papo fora com a vizinhança tagarela
Que não perde a oportunidade de debulhar
Todos os dias as mesmas potocas de sempre.
Ah! Perco-me em risos...ara!
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!
- Sentar-me à varanda...logo após o anoitecer,
Porquanto lá é donde posso serenamente contemplar
O lusco-fusco das estrelas a implicarem
Com o clarão desvairado do luar...
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!
- Arrefecer-me ouvindo uma música qualquer
Não importa qual!
Venha de onde vier...de preferência
Solfejada pela bela voz de Beatriz Azevedo!
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!
- Deixar-me balangar e balangar
Nas asas das boas recordações adormecidas
Mas nunca esquecidas,
Lá nos desvãos de minha gratidão...
Pois elas sempre enfeitam meus versins...
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!
- Porquanto hoje eu tenho tempo de sobra...
Aprecio muito escutar a zuada das crianças
A brincar na rua sob a clarabóia da lua...
E também me fascina auscutar
Pálido de espanto...
Os sussurros apaixonados
Dos enamorados a se lambuzarem de carícias
Sob a marquise de minha varandinha...
Ah, se gosto!
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!

- Ah! Por fim, não abro mão...em hipótese alguma,
De um cafezin quentin feito na hora...
Nem de uma farta bandeja de pães de queijo
E de biscoitinhos amanteigados feitos pela vizinha
Nem tampouco dos meus queridos amigos (as)
Do indescritível Facebook...
- Isto pra mim é vida a pulsar...ora!  

Romildo Ernesto de Leitão Mendes ( RELMendes)

Montes Claros (MG) 29-04-2016