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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Frei Jordão, o alegre confessor do Noviço esparolado

                                        Frei Jordão de Oliveira OP

Meu Deus! Quando minha memória se dispões a passear lá no passado, Ela sempre encontra algo de interessante a rememorar. Portanto, vamos acompanha-la em suas andanças pra ver o que ela ira cascavilhar lá no passado já tão distante.
Cá comigo tenho por certo que, novamente, nos conduzirá ao Convento dos dominicanos, situado à rua, do Ouro, bairro da Serra em Belo Horizonte, lá pelos idos de 1961.
Desta vez para falarmos de um cara incrível, e muito santo, frei Jordão.
E por que não?
Ora!  Se nem o tempo conseguiu apagar em mim suas santas lembranças, não serei eu quem as esconderei vez que não seria nem pertinente ao relato, nem tampouco justo ao protagonista.

Quando conheci frei Jordão, ele já era um frade presbítero e vice mestre de noviços. Era um jovem homem de sorriso afável e permanente.
Penso que frei Jordão, em sua juventude, como eu deveria ser “um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones”.
Vez que em sua maturidade, quando o conheci, apesar de acometido por uma terrível doença – uma tuberculose calopante adquirida em uma de suas extravagâncias esportivas, subir a “Serra da Piedade” correndo sem agasalho- sempre o encontrávamos perdido em alegria e brincadeiras interessantes. 
Esse cara era verdadeiramente um santo.
Dias após a minha tomada de hábito, eu o escolhi para meu confessor  vez que se ao Mestre de Noviços, considerado a Regra Viva do convento, cabia conduzir-nos ao conhecimento e a vivência do carismas da Ordem, aos demais frades presbíteros, segundo a livre escolha de cada noviço, competia  ouvir-nos em confissão e dar-nos orientação espiritual .

Então, contar-lhes-ei um interessante fato que confirma a santidade desse bom homem com quem tive a oportunidade de conviver no convento por alguns poucos meses:
Certa feita, numa tarde qualquer daquele saudoso tempo, quando fui me confessar, ao bater à porta de sua cela deparei-me com uma enternecedora cena de profunda paciência consigo mesmo e com suas limitações.
Lá estava ele prostrado ao solo de braços abertos e rindo se si mesmo, porque fora tentar rezar de joelhos e caira de bruços ao solo. Ao entrar, disse-me que já se encontrava naquela posição a mais de duas horas a espera de alguém que viesse ajuda-lo a se levanta.
Pediu-me que lhe desse o braço para que pudesse se apoiar e por si só se levantar. Então compreendi que, realmente, ele se encontrava muito debilitado. Mas, a maior surpresa, foi quando me pediu pra ajuda-lo a trocar o hábito que tinha se sujado porque era muito branco.
Meu Deus!... O santo homem era só pele, osso e sondas excretoras do excessivo fluido pulmonar que escorria de  seu magérrimo corpo franzino. E no entanto, nunca ninguém o vira  lamuria-se  de nada. Pronto! Daquele momento em diante, eu já não tinha problema algum! Uma vez recomposto disse-me carinhosamente:
- Frei Boaventura, estou a sua disposição! O que o senhor deseja?
Profundamente encabulado,  disse-lhe:
-Vim apenas reclamar de quase nada. Mas, ao observa-lo com tanta paciência para consigo mesmo, já obtive a paz que eu vim procurar. Agradeci-lhe ternamente, o acolhimento e parti curado, de alma e de mente.     

Conta-se que esse tal frei sorriso, com o qual eu tive o privilégio de conviver ainda que por pouco tempo, morreu brincando com seus confrades que cantavam a Salve Rainha na hora de sua morte.

- “Gente, se desafinarem na minha missa de “réquiem” como estão desafinado agora, eu salto do caixão e saio correndo por ai afora”. 

Contaram-me, também, que após dizer isto, sorriu, respirou fundo e partiu.
Valeu, homem sorriso!
Até breve!  
  
Montes Claros, (MG), 12-04-2015

RELMendes

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