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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Ode Ás Mãos Falantes


-Ah, as mãos por vezes dizem mais que palavras!
Sabe por quê?
Porque elas as mãos falam no silêncio das carícias
E, sobretudo no silêncio das tentativas de busca
Do ainda totalmente obscuro.
Pois desde o nosso despontar no procênio da vida
Elas as mãos seguram-nos jubilosas e firmes.
(As do obstetra ou parteira, dependendo da hora)  
Logo em seguida as mãos da mãe nos acariciam
E apressadas conduzem-nos aos bicos de suas tetas
Para o nosso primeiro alimento fora das pastagens  
Do seu quente e aconchegante útero.
(Ó! Desde ao nascermos as mãos nos acariciam!)
Em seguida as mãos do pai jubiloso esfregam-se uma
A outra sem aquietarem-se um só instante sequer
A demonstrarem a vaidade e felicidade infindas do genitor.
(Ó! As mãos fuxicam sobre nosso estado d’alma!)

-Ah, as mãos por vezes dizem mais que palavras!
Sabe por quê?
Porque elas falam no silêncio das carícias
E, sobretudo no silêncio das tentativas de busca
Do ainda totalmente obscuro.
As mãos sempre antecipam-se ao nosso engatinhar buliçoso.
As mãos gente tateiam objetos ao ensaiarmos inquietos
Os nossos primeiros passos cambaleantes á beça.
As mãos durante todo o percurso da vida:
(de qualquer um de nós)
- Gesticulam além de toda maneira que se possa imaginar
Ora por bondade, como que dizendo carinhosamente:
- Vem cá meu benquerer dengoso, pois quero te adular agora!
Ora por malquerença, como que esbravejando irritadas:
- Vai pros raios que o partam ó enxerido abestalhado!
Ora hilários á beça, como quando furdunçam nossos cabelos
A cata de piolhos coceirentos na cabeça da gente.
Ora abusadamente indecorosos. Como quando dão um
Deselegante cotoco (mostram o dedo médio ) ao importunador...
E pronto!

-Ah, as mãos por vezes dizem mais que palavras!
Sabe por quê?
Porque elas falam no silêncio das carícias
E, sobretudo no silêncio das tentativas de busca
Do ainda totalmente obscuro.
As mãos pedem doam escrevem poesias aos montes
E incontáveis cartinhas de amor sem fim.
As mãos salientemente deslizam inquietas pelo corpo
De quem se ama ao delírio. Eta coisa boa meu Deus!
(Ó! Mas que danadinhas hein?!)
As mãos fazem quitutes deliciosos pra serem por nós
Saboreados no transcorrer do nosso dia a dia.
Enfim as mãos não cessam de falar jamais.
Ou melhor. Cessam sim! Quando exalarmos
O nosso inevitável: - Último suspiro!
Mesmo assim lá no esquife lá estão elas as mãos.
Gélidas. Cruzadas sobre o peito do morto. Primeiras
A serem vistas no contexto mórbido do velório.
Benditas sejam elas as mãos que com maestria
Dedilham sem cessar os teclados da vida.
Até que seus holofotes se apaguem...
Definitivamente, claro!

RELMendes – 19/02/ 2019


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

O colhedor de flores e sua amada



Hoje colhemos flores. Juntinhos.
Eu transbordava-me de alegria.
Tu apenas admiravas-me a colhê-las.
O jardim espiava-nos fascinado.
Até dispôs-se a raptar-te.
Acho que imaginara seres tu
A flor que nunca o enfeitara ainda.
Ficaste encabulada com seu delírio.
De esguelha olhaste-me ressabiada.
E a sussurrar disseste-me:
Vamo-nos embora daqui meu amor?
A mim basta-me ser a tua flor!


RELMendes – 07/02/2019

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Ainda acalento sonhos E por que não?


-Ainda acalento o sonho
De amanhecer-me
Beira mar. Mar zunindo.
Pés molhados
De ondas quebradas
No remanso do mar.
Boca salivando
Vontades de comer
Pitu caranguejo e peruá...
A beira mar. A beira mar.,

-Ainda acalento o sonho
De mais uma vez
(Ah quem dera!)
Voltar á terra onde nasci.
Brisa ventando maresia.
Cheiro de infância roubada.
Porque não tida. Não vivida.
Como hoje é pensada.
Mas foi abanada com leques
Ou ventarolas sopradeiras
Da brisa do mar buliçoso.
A beira mar. A beira mar.

RELMendes – 30/12/ 2018