(lembranças são janelas abertas ao passado!... )
Quando vez por outra
A brincar o sol se esconde
Nas embaçadas tardes de
outono,
O velho aliviado se
escancha
Em uma desgastada
espreguiçadeira
Pra se refrescar na
sossegada varanda...
E se balança e cochila
E se balança sem parar
Por horas a fio.
-O olhar dele se perde no
tempo...
A degustar lembranças alvoroçadas...
Em sua excelente memória.
Ressabiado...
O velho não as revela a
ninguém
Por nada deste mundo
Só as sussurra consigo mesmo
Abismado:
-Ah! Lembranças lembranças
Cada qual mais saborosa
que a outra.
Mas enfim, será pra onde
elas me levam?
Pois sempre me arrastam ao
pretérito
Após cochilos e mais
cochilos.
Nas asas delas alço vôo
E lá de cima...
Vislumbro serras montes
E belas campinas...
Então, um sussurro
angelical...
Ao velho responde:
-Ora, meu velho!
Elas seguem...lá no
passado,
As tuas jovens pegadas
E certamente...sem hesitar,
Levar-te-ão determinadas
Ao topo da exuberante
“Serra da Piedade”
-onde repousaste
tranquilamente a
cabeça
No acolhedor colo materno
Da “Padroeira de Minas”
-Onde contemplaste
Ao amanhecer
Logo após a oração das
matinas...
O avançar ligeiro da
sombra da Serra,
Que altiva se derramava
Sobre a Belo Horizonte
A linda capital das Minas!
-Então o velho saudoso balbucia
-Oh! Quão formosa és tú,
Ó amada Serra!
Serra...onde vivi a doce
saga
De repensar...mais uma vez
ainda,
O meu fantasioso sonho
juvenil
Em fazer-me um recatado
mongezinho
Que nem se quer seria
percebido
Aos olhos malvados desse
mundo.
Entretanto...
Chutei o balde
Chutei a bola na trave
E tomei outro rumo...ora!
Derepente...
Uma voz estridente ecoa
Lá da cozinha...
E trinca o encantamento
Do sublime devaneio:
-Véio! Ô veio!
-Vem logo tomá o café!
Então aborrecidíssimo...
Resmunga o ancião sonhador:
Ara! Não quero ser
perturbado agora!
Espera só mais um
pouquinho!...
Só levantar-me-ei dessa
espreguiçadeira
Depois de degustar...uma a
uma,
Todas as lembranças
De minha saudosa juventude
Que o tempo levou pra
sempre
E não voltará jamais,
Nem que a vaca tussa!
Montes Claros, 26-04-2012
RELMendes
Belíssimo poema, irmão! Retrata bem o que são os sonhos de um idoso e a bela Sera da Piedade.
ResponderExcluirAbraço carinhoso,
Maria Luiza ou somente Lu