-Vez em sempre,
gosto de relembrar coisinhas surpreendentes com as quais a vida me presenteou...sem
que...ao menos,
eu as esperasse
ou tampouco as desejasse.
Aliás, pra
dizer a verdade, quase tudo de interessante que aconteceu comigo em minhas
muitas andanças pelas quebradas da vida, simplesmente aconteceram por acontecer,
ou digamos:
- Por uma simples mercê do generoso acaso...
- Ou quiçá, quem
sabe tão-somente por uma ironia do destino...
- Ou quiçá
ainda só porque eu estava ali...na hora e no lugar certos. -Quem sabe?
-Fora o que
acontecera comigo um dia, quando tive uma oportunidade impar de ouvir, ao vivo
e a cores, um inesquecível ensinamento do sábio Tristão...o Alceu pensador do
Brasil.
Olha só, que
fique bem claro aqui, sobretudo, aos que possam achar que estou potocando: - Eu,
infelizmente, não era amigo dele!
– Eu, lamentavelmente,
não era aluno dele!
- Pra dizer a
verdade, eu nem sabia quem era ele, e nem tampouco se existia...
Eu apenas
passava pelo lugar onde ele se encontrava e me encantei com o papo dele...
Mas que foi muito
bom tê-lo encontrado naquele dia memorável...
- Ah, se foi!
-Entretanto, peço-lhes
licença e desculpas, mas antes de relatar esse tal inesquecível ensinamento, eu
gostaria muito de lhes falar, sucintamente, ou seja, só um pouquinho sobre a
pessoa do ilustre pensador Alceu de Amoroso Lima, conhecido, também, pelo
pseudônimo Tristão de Ataíde:
-Ora! Apesar
de seus muitos títulos...nacionais e internacionais,
Apesar de seus
inúmeros dotes intelectuais...mundialmente reconhecidos...
Tristão fora
um cara que nunca se ensimesmara com essas honrarias que lhe eram tão
merecidas...
Isto porque
ele era, sobretudo, possuidor de uma imensa nobreza de caráter que a todos
encantava, mormente a seus alunos que o admiravam sobremaneira: – porque era
gente boa de verdade...
e um ser
humano impar.
-Alceu, pra se
ter uma idéia, quer quisessem ou não, sol a pino ou a garoar, fino e frio, que
chegava a molhar o chão, o corpo e, porque não dizer a alma também,
religiosamente, todas as manhãs após as aulas, até sua aposentadoria em 1963,
lá estava ele sentado no meio fio da calçada em frente ao prédio da PUC (SP), por
ele fundada, a papear com seus pupilos acerca da vida e do sentido dela.
-Numa dessas
inesquecíveis manhãs, um aluno, desses do tipo mais afoito, ou seja, um amigo
meu, questionou-lhe:
- Mestre, por
que seus ilustres colegas são tão sisudos,
e sempre evitam manter um contato mais direto
conosco?"
- Ora! Meio que espantado - a pesar do
intenso brilho
de seus olhos
serenos - com ar de criança desconcertada, e, como quem pego de surpresa, sorriu...um pouco
constrangido,
e respondeu-lhe questionando-o:
-“Você sabia
que as madeiras envernizadas
têm medo de qualquer coisa que as possa
arranhar?”
-Então o
discípulo afoito riu e exclamou:
- Deveras,
mestre!Tal qual às madeiras envernizadas...
Também assim o
são, as metidas pessoas empoadas, pois não?
-Alceu se despediu sorrindo...
como o fazia
todas as manhãs,
e partiu...discretamente,
sem mais comentários...
só para não
acirrar os ânimos...
Pois, enfim,
era um filósofo...ora!
-Eis ai o
sábio ensinamento do qual lhes falei:
“Madeiras
envernizadas têm medo do que as possa arranhar”...
-Eu entendi, e
vocês?
-Moral da
estória:
-Pois é! Quem
escuta...atentamente,
sempre aprende
algo de muito útil...
ainda que pelas
calçadas da vida...ora!
Montes Claros
(MG), 04-03-2014
RELMendes
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