Mal
o sol desponta avermelhando o horizonte do sertão, em uma cidadezinha qualquer
do interior... o burburinho de vozes da vizinhança , a zuada de seus rádios mal
sintonizados nas emissoras locais e o cantar dos pássaros, acendem ruidosamente
o novo dia prestes a nos ofertar bem devagarzinho suas singelas surpresas
sempre tão corriqueiras...
O cacarejar das galinhas soltas pelas
ruas a ciscar a cata de sua sustança matinal. Os homens buchicham, ora aos
berros ora aos sussurros, sobre assuntos do universo masculino – lorotas e mais
lorotas... As mulheres da vizinhança a
tagarelar umas com as outras sobre a mesmice do cotidiano: - Já fez o café? -Me dá um cadim aí, porque meu gaz acabou e
estou sem açúcar e sem dinheiro pra comprar. – Ocê viu isso, aquilo e aquil’outro? E a
tagarelice se espalha que nem erva daninha...desde o alvorecer até o cair da
noite que costuma esconder surpresas quase inenarráveis de tão descabidas as
vezes: - arroubos amorosos por detrás de muros a despencar; tramas políticas
regadas de maledicências ao sabor de pequi e feijão tropeiro; segredos
desvelados de madames sexualmente generosas e daí por diante... até todos se
apagarem ébrios de sono, ou pelo excesso de cachaça ingerida... ou pelo tédio
próprio de qualquer cidadezinha do interior. Ah! O dia seguinte será exatamente
igual ao dia anterior. Enfim, como disse Carlos Drummond de Andrade: “Eta vida
besta, meu Deus!”
Desculpe-me
amado poeta, mas que a gente gosta disso...
Ah
se gosta!
Montes
Claros (MG), 07-2014
RELM
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