Total de visualizações de página

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Zé da ONG das espertezas

( 77 anos de pura safadeza)
Alguns dias atrás, como é de costume, fui fazer alguns exames laboratoriais e lá me encontrei com um senhorzinho, bem mais velho do que eu, que também esperava a sua vez para coletar seu sangue.
Até então, não obstante sermos muitos tagarelas, até demais da conta, nem eu, nem tampouco ele havíamos nos cumprimentados, nem... “en passant”.  Entretanto, feito a coleta, nos dirigimos à sala de desjejum e por lá começamos um bate boca agradável sem fim.
Até que, com muita gentileza, fomos convidados a nos retirar do recinto porquanto a baderna já tinha ultrapassado os limites suportáveis  para um ambiente tão recatado quanto o de um laboratório. Falávamos de coisas do pretérito enfim:
- quem eram os nossos familiares;
- quem eram os amigos em comum;
- por onde havíamos andado na juventude;
- onde morávamos e assim por diante...
Quão alegre eu ficara, que me parecera sermos velhos amigos. Daí não hesitei em convida-lo para almoçar comigo naquela manhã mesmo lá num restaurante Mendeiros. Aquele que fica ali bem pertinho da rodoviária de Montes Claros do outro lado da rua perto de um posto de gasolina.  Nesse restaurantesinho Medeiros tem um tal de “ comercial”  que é uma delicia. E o melhor é que um só da pra duas pessoas saírem de lá satisfeitíssima, e ainda sobra comida pra se levar pro cachorrinho...
( Aqueles marmitex que a gente diz que é pro cachorrinho, sabe né?)
Ah!  E por apenas R$ 12,00, viu?!
Bom! No inicio ele hesitou quem nem o “Chaves”, sem querer querendo ir. Então como era final de mês, e, em sendo aposentado, percebi que devia está sem um centavo nos bolsos. Então, insistindo, disse-lhe:
- vamos eu pago tudo! Ora! Então, ele saltou rapidamente no taxi, que nem saruê faminto ao ver um ninho de passarinho cheinho de ovos saborosos. E lá fomos nós apotocar e a gargalhar à beça dos tantos besteiróis que trocávamos entre nós. Entretanto, em poucos minutos, já à porta do restaurante, quais não foram às surpresas desagradáveis:
Antes de adentrarmos ao refeitório, disse-me ele:
-Hum, to com uma vontade louca de fumar!
Você pode compra um cigarrinho para mim?
Comprei um daqueles que se vende a varejo e dei-lhe dizendo-lhe:
-Cara!... É de bom tom que se mantenha o próprio vicio!
Imediatamente em seguida, apresentou-me um tal amigo, também, idoso  que do nada aparecera por ali em uma bicicleta, segundo ele a procura de serviço. Então  o meu talvez futuro amigo, voltou-se para mim e contou-me que aquele bicicleteiro idoso estava com muita fome e perguntou-me com maior cara de pau:
-Você poderia dar-lhe uns trocados para que ele possa pagar a refeição dele?
Antes de dizar-lhes o que lhe respondi, relatar-lhes-ei o que pensei cá com meus botões.
Putzgrila! Que cara aproveitador!
Mas que intimidade é essa, em tão pouco tempo de convivência?
Orabolas?!  Então, resolvi apelida-lo de Zé da ONG das espertezas. Gente, ta cheio deles por ai, viu?
Bom!... vamos retornar ao assunto.
Respirei profundamente, contei até dez, e disse-lhe assim:
Ô seu Zé da ONG das espertezas, quando eu quero fazer caridade, não peço a ninguém que a faça por mim. E se você está compadecido dele,  dê-lhe você mesmo, o dinheiro que necessita para se alimentar , eu to fora. Gente, o tal bicicleteiro estava mais bem vestido que o falecido Clodovil em dia de apresentação do seu programa de TV. Enfim, mesa posta e lauto almoço servido, pusemos-nos à comilanças.  De esguelha, eu observava o magérrimo, Zé da ONG das espertezas se fartar faminto, que nem “guariba”, sem comer por dias e dias, após a queimada da floresta em que vive.
Finda a refeição, despedi-me apresado. Entretanto, ele olhou de um lado pro outro, e perguntou-me, se fazendo de besta:
- Onde estamos? Como faço pra voltar para o centro?
Então, disse-lhe:
-Toma o ônibus... ara!
-Olha só o ponto dele ali!
Por incrível que lhes pareça, pra completar o clima já não tão amistoso, o seu bendito Zé da ONG das espertezas, com uma cara de menino abandonado, sussurrando-me ao pé do ouvido, confessou-me que não podia pegar o ônibus, vez que, além de não ter dinheiro para pagar sua passagem, perdera também sua RG (carteira de identidade) que comprovaria ter ele mais de 65 anos.
Não vendo outra saída mais gentil e humana, disse-lhe:
-Então vem conosco!
Com um aperto de mão, o descartei lá pelas bandas do Mercado Municipal, onde havia dito que morava.
Ufa! Dora em diante, pretendo nunca mais deixar-me levar pela euforia do momento, vez que aprendi que nem tudo que reluz, é ouro!
Entretanto, não obstante, deixarei sempre aberta a porteira da amizade pra quem queira compartilhar comigo a alegria e a generosidade que em mim, abundantes, ainda esplendem.

Até breve.     

Montes Claros- MG 30-06-2015
RELMendes 
      

Nenhum comentário:

Postar um comentário