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domingo, 26 de janeiro de 2014

Bisbilhotando o imo de mim... ora!


A ouvir o tilintar das gotas de chuva
    (no telhado... claro!)
Deu-me uma vontade louca de calacear
Sorrateiramente no imo de mim.
E pasmem,
Por lá encontrei um desejo desembestado de voar.
Voar... mas não como um inhambu,
Porque é espalhafatoso, e até assusta-nos
     (no seu ato de arribar!)
Mas voar...voar acima dos montes
E das almas miúdas
      (que nos abocanham e invadem o imo de nós!)
Num vôo sobranceiro... donairoso... e belo
Como o das garças brancas do sertão
A busca de seus ninhos... nas veredas!

Ah! Voar... voar...voar...
Até empanturrar o imo de mim de ledices...
Simples assim... ora!

Montes Claros (MG), 26-01-2014
RELMendes      

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O catador de pequi

     (Um bufarinheiro de felicidade)

Assunta só:
Em tempo de safra do maná dourado
   (Pequi...ora!)
Todo cerrado se alvoroça!
Todo o sertão se avexa de alegria
Porque mal o sol esbugalha seus olhos ardentes
   (Até se pôr a pino)
É um corre corre danado!
É uma trabalheira sem fim!
   (mas compensa, uai!)

Num rápido gesto de despertamento,
O sertanejo daqui das “Gerais”logo se põe de pé
   (num salto de guariba!)
E começa a palmilhar curioso
O campo e a manga inteirinhos
Até encontrar o generoso “Pequizeiro”,
Uma das árvores sagrada desse amado sertão!

Então, sob sua sombra alvissareira
  (do alvorecer ao crepúsculo)
É só catar pequi!...
Cata aqui!... Cata ali! Cata até lá acolá!...
Porque pequi bom,
É o que despenca das galhas
E se esparrama no chão...
  (Os frutos pendurados ainda não prestam não!)

E o dia inteirinho é uma correria só:
Agacha!... Cata!... Levanta!... Ensaca!
E corre à beira da estrada, e grita:
Olha o pequi aqui sô!
Olha o pequi sô, amarelim!
Vai pequi graúdo aí, moço?
  (Ora vende bastante, ora ninguém compra nem acena a mão!)
E a labuta se acirra todos os dias até o anoitecer
Durante toda a temporada da bendita safra
Do nosso gostoso pequi,
O saboroso maná dourado do sertão!...

Eita trem gostoso!...
Eita trem bão!

Montes Claros (MG), 19-01-2014
RELMendes
             



domingo, 19 de janeiro de 2014

Um jeito barroco de ser e de viver!

                    ( poecrônica)



Nas curvas e /contracurvas/
Do apressado /cotidiano /da Vida/ barroca/
Há momentos /de muita Sombra/:
- Ansiedade!... - Angustia!... -Tristeza!...
- Dissecação/ de cadáveres! - Peste Negra!...
Mas há// também/ rápidos /
E /abundantes / momentos/ de luz /claridade!/
/ como se fora Epifanias!/
Bem como/constantes e ininterruptos / momentos/de vida vida /
A contrastarem  com aquela /explicita/ morbidez /constante/:
Uma santa ceia /esplêndida!.../
Um candelabro /aceso/ no teto!...
Um enxame de anjinhos /bochechudos/ a esvoaçar/ pelo salão/
(após transpor /um “olho de boi/ em pedra sabão”!)
Uma mão a coçar /o orobó /repleto/ de oxiúros/ irrequietos;
Um cachorro/ e um porco a vasculhar /o lixo/ à cata de alimentos;
Um fiapo de catarro /a escorrer /do nariz de um garotinho/ imundo/
Que se arrasta/ sem cessar/ pelo chão/ a berrar;
Um idoso(a) / peidorreiro (a)/ tentando /disfarçar/ o mal cheiro/
De sua inoportuna/ flatulência/ impertinente/ ao ambiente;
Umas belas /serviçais/ a se movimentarem/ graciosas/ colhendo vinho/ Nas talhas/
(Ah,não faltam /tampouco/ gestos /exagerados/ a se derramarem/ em cena!)

Esse dia a dia / pictográfico/ do barroco/ ah/se veste
De uma/ hilária e encantadora/ multiplicidade /de detalhes/
(que /a nós/nos permitem entrar/ na obra/ e não só /observá-la/
porque / ela esconde/ quase que/totalmente/ seu ponto de fuga!)
Em que /cada pessoa/ cada objeto/ cada coisinha/
(aparentemente/ insignificante/)
Destaca-se /sobremaneira/ no mesmo espaço/
E /ao mesmo/ tempo!

O tal jeito barroco/ de ser e de viver/
É um não /ao “mais do mesmo” /renascentista/
É um /intenso e denso/ movimento /envolvente/
É uma interação/ total /entre o humano e o divino/
É /enfim/ uma inclusão /fantástica/ entre tudo/ e todos!...

Montes Claros (MG), 12-12-13

RelMendes

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Um dos meus muitos solilóquios

     

            (Bisbilhotando-me a mim mesmo!)



Ah, minh` alma irrequieta!
(alma ou id,ou superego,ou ego,ou sei lá o quê!)
Fora eu o condutor de ti,
Ò  minh’alma sedenta,
 (mas não o sou!)
Dar-te-ia alento
E talvez pudesse até te acalentar
E te amainar essa tua ânsia louca
De te apossares do aconchego do “Amor Infinito”.
Porque degustá-lo é preciso sempre
E não vivenciá-lo por aqui
(nesse triste e sombrio degredo)
Em nada a ti apraz de contentamento.

Ah! Fora eu o condutor de ti,
Ò minh’alma irrequieta,
(mas deveras não o sou!)
Tenha por certo que tudo faria
(sem acuar-te claro, porque não te vergas!)
Para que te sentisses amada
E envolvida  pelo lindo buquê de alegrias
(Alvoreceres, crepúsculos, madrugadas...)
Que nessa vida há
E nela muito bem se escondem.

Ah, o Amor!..
A Suspirar...
Minh’alma  irrequieta declama:
Ah! O Amor desabrocha
Inesperadamente,
Envolve...embala...e pronto!
Ah, o Amor encanta-me!... 

E por ai minh’alma irrequieta prosseguiu:
Ó bela tenda onde moro, habito e me escondo,
Por favor, suplico-te:
Deixa-me cá com meus achaques!
Ah! E se és também meu espaço de surpresas,
Peço-te encarecidamente
Que não tentes compreender-me
Só porque tenho sede de infinito.

Ah! Digo-te ainda:
Fora eu ave de arribação
Alçaria voo livre até o deserto
E de lá...
( na quietude de sua solidão silente)
Por-me-ia a ouvir o uivo da brisa fresca do vento,
E quem sabe assim não penetraria
Numa das frestas transcendentais
Dos insondáveis segredos da eternidade?
Quem sabe?  Ah, quem dera!

Como podem ver,
Neste meu solilóquio
  (bisbilhotando-me a mim mesmo)
Há muitos “ se’s”,
Inúmeros  “ ai’s”,
E não faltaram...”.portanto’s”
  (ainda que ocultos!)
E...quantos!... E...quantos!....

Montes Claros(MG), 13-01-2014
RELMendes