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quarta-feira, 28 de março de 2012

Vem sim´bora pra cá! Um apelo insistente...



Ouço...
Frequentemente...
O rugido sôfrego do mar insistente,
Tentando seduzir-me...
Com lamuriosa persistência...

Volta! Vem! Retorna!
Ruge fremente o verde mar distante!...

Sabe,
Ele sussurra... sussurra sem parar...  
Lembranças vagas de momentos corriqueiros,
Que talvez um dia,
Eu os tenha vivido por lá...

-As velas das jangadas já foram içadas
E soçobram livres ao sopro do vento...
-As redes beges, dependuradas na varanda,
Balouçam vazias...
-Os potes de barro cheios do refrescante aluá
Desejam ansiosos se esvaziar...
-Siris, lagostas e caranguejos buliçosos
Esperam apavorados, à hora de serem
Imersos na água fervente, temperada
Com sal, cebola e cheiroso coentro...
-Sucos pra saciar a sede?!...
Ah! Lá tem aos montes:
Maracujá, caju, graviola, siriguela, murici...

Volta! Vem! Retorna!
Ruge fremente o verde mar distante!...

Vem enquanto há vida...
Pra na praia ser vivida!...
Retorna ligeiro, enquanto há tempo,
Para realinhavar, a miúdos pontos,
Elos eternos de referência
Bruscamente rompidos
Pela acintosa fúria do tal destino,
Que obstinado,
Dispôs- se inconsequente
A desfiá-los por inteiro...

Será que o mar descobriu
Que eu sou um colecionador
De corriqueiros momentos de felicidade?!... 

Ah! Sei lá...
Não sei se isso é loucura...
Não sei se isso é apenas ilusão passageira...
Não sei se esses apelos são só elucubrações
Que muito me espantam...

Só sei que travesso,
Escuto a zombar...
O lamento envolvente
Do sedutor mar suplicante:
Volta! Vem! Retorna!
Ruge fremente o verde mar distante!...

Montes Claros, 25-03-2012
RELMendes


sexta-feira, 23 de março de 2012

Juntando retalhos de saudade...


Saudade do incandescente pôr do sol
Que, logo após completar seu escondimento,
Perrmitia a olhos curiosos vislumbrar
O infinito firmamento
   (pontilhado de reluzentes estrelas),
Esbanjar generoso
O seu inenarrável encantamento...

Saudade do luar prateado
Que enluarava os verdes mares,
E das alvas areias finas da praia
Onde ondas apaixonadas
   ( uma após outra)
Derramavam-se alegres
E em repetida sequência...

Saudade da água fresca da quartinha,
  (num sombreado canto da casa colocada)
Saudade da varanda caiada de branco,
Saudade da rede puída pela maresia,
Balançando... balançando...
Ao sabor do forte vento...

Saudade de me aboletar numa delas
Só pra ouvir, bem de pertinho,
O barulho do quebrar das ondas
A bordar na areia rendas de labirinto
Com suas brancas espumas abundantes
Lá na bela enseada do mar indolente
De Jericoacoara...

Saudade de mergulhar no Timbó
  (riacho fresco de águas cristalinas)
Que a sussurrar cortava as terras ressequidas
Do sitio de meus avos maternos:
A bela cabocla Elvira, mulher do galego João Gomes
De vivos olhos azuis reluzentes.
Ah! O Timbó era um riacho tão lindo.
 Nele corria muita água fresca
 E, às suas margens,
 Bastante flor nascia...

Saudade de comer pitu,
  (um baita camarão de água doce)
Que (com peneira)
Lá acolá, no dito riacho,
Muitos se podiam pegar!

Saudade da mesa posta,
Repleta de saborosas iguarias
Que só de se olhar de soslaio,
Prestes nos dispúnhamos a consumar
O terrível pecado da gastrimargia:

Peixe assado na brasa,
Recheado de lagostas e queijo coalho;                  
Salada arretada: legumes, verduras,
Rapadura e até cocada;
Caju cristalizado ou em calda;
Banana seca e sapoti;
Buchada, frango à cabidela,
Bolo de carimã, pé de moleque
Ou grude de castanha de caju
Como lá se chama;
Macacheira cozida e tapioca besuntada   
De manteiga derretida;
  (Claro, depois de desengarrafada!)
Tudo ali
(bem pertinho a se ofertar)
Para num piscar de olhos
Ser degustado                 
Por um bando eufórico
De alegres esfomeados...  

Arre égua!
Só me falta agora sentir saudade
De engolir uma bilha cheinha
De cajuína fresquinha
Pra saciar-me a sede
  (do meu quase maluco desejo)
De voltar ligeiro pro Ceará dos meus sonhos,
  (ainda que seja no lombo dum jegue)
Porque é a terra onde está meu aconchego,
E que, neste exato momento
Do meu poético desvario,
Oferta-me:
O colo generoso como regaço,
Os braços abertos de pura alegria,
E os macios seios ensolarados da terra
Pra que eu possa (certamente um dia)
Lá repousar saciado por inteiro...


Montes Claros (MG), 16-03-2012
RELMendes