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domingo, 4 de maio de 2014

A desforra de um pirralho peralta



              (Hão de se ver comigo!)
-Quero porque quero 
Meus soldadinhos de chumbo pô! 
Ah, se os quero!

-Ah! Por causa deles lancei fora preciosas lágrimas...
Lágrimas extraídas da falsa ou real sensação
De terem relegado, meu sonhozinho, ao léu.

-Chego até a pensar
Que minhas traquinices poéticas
E essa minha louca euforia brincalhona
Tenham suas origens ai
Nesses melindres infantis 
Que, em mim, aninham-se n’alma.

-Ora! Ao lembrar-me que os avôs não me deram 
Aqueles lindos soldadinhos de chumbo...
Que, na época da infância,
Eram o sonho de toda criança,
Ah! Fico aborrecidíssimo...pô! 
E, até melancólico, sô!
É como se os avôs me tivessem destroçado a alma.
(Ah! Gruniram, assim, os avós rabugentos:
Que menino birrento!)
Ora! Mas, a época, quem ousaria contradizê-los? 
Portanto, ainda hoje, culpo-lhes de terem me lesado
O direito de eu realizar o meu tão encantador sonhozinho:
Brincar...e brincar muito
Com aqueles lindos soldadinhos de chumbo, 
Ora, pois, pois!

-Ora, mas qual o quê! 
Não hesitei, então, em dar-lhes o troco!
Como não codifiquei bem o “não sei o quê”
Da bendita justificativa deles (avós),
E já que tinham devassado a minha sedutora ilusão pueril
De brincar e brincar, por horas e horas a fio,
Com aqueles benditos soldadinhos de chumbo,
( por causa dos quais, ainda hoje, planje-me a criança 
que em mim se esconde...)
Pus-me então a buscar...ainda que contrariado,
Outros brin-que-di-nhos também lú-di-cos
(talvez não tanto quanto aqueles, ou, quem sabe até mais!)
Pois, assim ansiava o meu coração contrariado
De pirralho birrento...e danadinho...ara!

-Portanto, no intuito de ressarcir-me dos inimagináveis prejuízos,
Reinventei, então, novas pa-ra-fer-ná-lhas lúdicas, tais como: 
-Furtar siriguelas nos pomares da vizinhança; 
-Olhar por debaixo das saias das meninas e, também, 
das velhinhas rabugentas;
-Soltar pipas coloridas e puns fe-di-dís-si-mos... 
(perto das visitas...ora!);
-Ouvir música na galena velha do vô, e escondê-la do velhinho; 
-Bolinar a cozinheira desprevenida, só pra aborrecê-la; 
-Atirar pedras na casa dos visinhos, só pra contrariá-los; 
-Jogar peladas nas ruas por horas a fio
-E atirar pedradas ao léu, e, dai por diante...

-Ah! Tentaram roubar de mim os meus sonhozinhos, né?
Pois, então, dei-lhes, também, esse banho ai de peraltices,
E, logo em seguida, evadi-me...lá pro topo da lua!

Montes Claros (MG) 15-04-2024
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